Há tempos não escrevo (salvo meia dúzia de textos em um ano). Depois do infortúnio que passei, minhas palavras sumiram, minhas letras silenciaram, minha leitura travou e meus escritos adormeceram.
Com o advento da tragédia, senti-me sem confiança para escrever; é como se o que eu dissesse ou escrevesse não tivessem mais credibilidade, pois talvez, minhas palavras, sentimentos, expressões, falseassem a imagem e a essência da alma, do espírito.
Quem seria eu para falar disso ou daquilo? Estaria sendo autêntico ou hipócrita? E assim, senti minha alma abatida, desfalecer-se e apagar minha motivação, desejo e paixão pela leitura e pela escrita.
Mas um filho de Deus passa pelo deserto, mas não fica no deserto, disse-me alguém quando eu atravessei a aridez da alma.
E felizmente, depois de um ano do infortúnio, eis-me aqui tentando retornar à estrada das palavras, das letras, da leitura, da escrita. Parece o despertar de uma paixão, não uma nova, e sim aquela que apenas estava adormecida, e não poderia traí-la jamais, mas sentir o entusiasmo com a ideia de voltar a vivê-la intensamente!
Voltei a visitar livrarias, voltei a ler. Esses dias, por exemplo, li “O diabo” de Leon Tolstói, estou lendo o clássico de Goethe “Os sofrimentos do jovem Werther”, além das revistas que assino, as quais, por um tempo, ficaram apenas entulhando espaço, pois abstive-me da atividade de leitura durante o furacão vivido.
Aliás, quem sabe um dia eu não escreva um romance para contar a história, misturando realidade e ficção. Já pensei nisso. Pelo menos, fiz um diário do drama vivenciado. Foi o produto que me sobrou para escrever naqueles dias de solidão e aridez criativa e intelectual. Vou amadurecer essa ideia. Talvez leve anos para isso, pois muitos escritores levam vários anos para terminar de escrever uma obra, imagine eu – um incipiente aprendiz da arte de escrever!
Nesse novo despertar, fui à livraria e vi a obra “Cartas do poeta sobre a vida”, de Rainer Maria Rilke, um dos meus escritores preferidos. Desejei comprá-la, mas no Brasil livro custa muito caro. Desisti por algum tempo, afinal ainda tenho muitas obras para ler – resultado de minha ida à Bienal do Livro, em São Paulo, ano passado. Curioso é que no meio do turbilhão vivido, fui refugiar-me entre milhares de livros. Desejei alguns, comprei-os e guardei-os, agora estou lendo-os.
Mas enfim, eis-me de volta à escrita e à leitura, minhas grandes paixões, e parafraseando Vinícius: que sejam infinitas enquanto dure a minha vida aqui na Terra, e quem sabe, até no além.
Conseguirei? Acho que sim. Mesmo a despeito de os infortúnios vividos nos deixarem marcas indeléveis na alma, penso que somos capazes de superá-los e acordar para um novo amanhecer e um novo horizonte no espetáculo da vida. Sigamos em frente!