Ao ler a obra de Rubem Alves, “Conversas sobre políticas”, deparei-me com a crônica “É preciso tapar o buraco dos ratos”. O cronista escreve de forma irônica a relação entre cidadãos e os ratos da política brasileira.
Para isso, Rubem Alves menciona um filme do Gordo e o Magro em que estes deveriam trabalhar para evitar que os ratos entrassem no quarto de queijos de uma fábrica desse produto, conforme o enredo do filme.
O autor ao refletir sobre o filme, e deduzo, fazendo analogia com os nossos ratos da política, perguntou-se: “Mas quem que é que faz os buracos pelos quais os ratos entram no quarto dos queijos?"
"A resposta é simples: os ratos entram no quarto dos queijos porque nós cidadãos fazemos os buracos. Os ratos estão lá por culpa nossa. Os buracos através dos quais os ratos entram são os nossos votos. Os ratos entram no quarto dos queijos democraticamente...”
Seguindo em seu texto, o escritor argumenta que, "para a realização da democracia, é preciso que o povo saiba pensar. Se o povo não souber pensar, votos e eleições não a produzirão. A presença dos ratos na vida pública brasileira é evidência de que o nosso povo não sabe pensar, não sabe identificar os ratos...Não sabendo identificar os ratos, o próprio povo, inocentemente, abre os buracos pelos quais eles entrarão"
E continua sua argumentação inquirindo sobre o que ensina povo a pensar – é a educação. Concordo com o que ele diz. A presença dos ratos na vida política brasileira como evidência de que nosso povo não sabe pensar, comprova que nossas instituições de ensino não cumpriram sua missão mais importante – a de ensinar o povo a pensar, diz o escritor.
Finalmente o cronista indaga: o que há de errado com a educação no Brasil? Se a educação não cumprir a sua missão, o povo não aprenderá a pensar e estaremos condenados a conviver permanentemente com os ratos.
Particularmente, parece-me que não saber pensar politicamente, não é privilégio do povo brasileiro. É só lembrar-se do George Bush – o guerreiro, aliás, referido por um professor que tive – nem no reino animal há classificação para o tal do Bush. Chávez também poderia ser outro exemplo da ingenuidade de um povo.
Mas o problema e a moral da história dizem respeito ao nosso povo brasileiro. Nisso lá se vão 500 anos de ratos no poder. E a educação que talvez já tenha sido melhor, hoje em dia vai de mal a pior. Essa tragédia tornou-se um círculo vicioso. Entra governo e sai governo, mudam-se os atores políticos, mas a educação continua ruim.
Mas será que só o governo é responsável por isso? Creio que não. Os profissionais de educação estão e são marginalizados pela própria sociedade. Professores e educadores são diariamente agredidos, desrespeitados, e em nome da pseudodemocracia, da liberdade individual, e de outros argumentos filosóficos e até pedagógicos modernos.
Alguns pais ao invés de contribuírem com os educadores tornam-se inimigos destes e os menosprezam, quando não os humilham, apoiando práticas e comportamentos antissociais de suposta proteção aos filhos.
Atos de arbitrariedades, autoritarismos não são apoiados, mas um dos princípios básicos de convivência social é a autoridade e esta deve ser respeitada e preservada. E nisso a nossa sociedade está devendo aos nossos educadores.
Profissões de maior status social são valorizadas e endeusadas por nós, mas o professor, o educador, é sempre renegado. Ninguém quer que o filho seja professor, quer que seja advogado, juiz, médico, mas todos esses já passaram, passam e passarão por um educador.
E não é a educação somente como conhecimento, atribuído à escola, que exterminará os ratos. Mas principalmente a educação como valor, ensinado no seio da família. Esta educação é que é a base de tudo, é esta que deverá transformar a sociedade, e esta, também está falhando, e muito.
Para exterminar os ratos, devemos, inicialmente, tolher os comportamentos e ações antissociais dos pequenos, médios e grandes tiranos, seja em casa ou na escola; do contrário, aposto que eles serão os ratos de amanhã. Alguém duvida?