A vida é resultado de escolhas. Em decorrências destas, não se pode ter tudo que se deseja.
Escolhe-se entre ter uma carreira no serviço público, para garantir a estabilidade, e abre-se mão de ideais profissionais, de vocação até.
Escolhe-se alguém para casar e depois separa-se por qualquer motivo e acha-se que, trocando-se de cônjuge, a vida ficará melhor. Nem sempre.
Escolhe-se um lugar pra viver, mas as circunstâncias às vezes nos levam pra cidades que jamais imaginávamos ir.
Escolhe-se uma religião, uma igreja, mas talvez isso possa mudar por algum motivo na jornada da vida.
Sonha-se em ser um músico de sucesso, mas como a vida de músico, ou melhor, vida de artista nem sempre é fácil, tem que se arranjar em outras atividades pra sobreviver.
Sonha-se em ser um empreendedor, mas o receio de dar errado trava o avanço desse ideal.
Escolhe-se o caminho das drogas, dos vícios e abre-se mão de uma vida digna, de sucesso profissional. E nem me venham com a história de responsabilizar o Estado por isso. A droga é uma escolha. Usa droga quem quer, na verdade, usar droga é falta de inteligência.
Nesse buraco, já caíram muitos; dos pobres desconhecidos aos famosos e bem-sucedidos. Mas, certamente, foi uma escolha.
Mas há coisas que não escolhemos e elas vêm. E podem determinar o percurso de uma vida, ou talvez torná-la uma tragédia.
Uma mulher que foi estuprada e engravidou; o filho que nasceu sem pai, por causa da irresponsabilidade dos pais; uma doença fatal ou qualquer doença que limite a vida, afinal ninguém escolhe ficar doente.
Um acidente que deixou alguém numa cadeira de roda por causa de um maluco encachaçado ao volante de um carro. Enfim, fatalidades não são escolhas, mas podem determinar o curso de uma vida.
Então, no final, não se pode ter tudo o que se deseja ou se sonha. Há coisas na vida que dependem de nós, mas outras não. Sábio é quem faz boas escolhas quando estas dependem só de quem as faz e não de outros ou outras circunstâncias da vida.
E sempre haverá um dilema: ou isto ou aquilo - como dizia uma fábula que li, e lembro vagamente, escrita em minha cartilha de segunda série.
Era mais ou menos assim. Um canoeiro, iletrado, conduzindo um sujeito erudito. Na conversa, o intelectual faz uma série de perguntas ligadas ao conhecimento - filosofia, etc., etc.; o canoeiro respondia não, não sabia nada daquilo.
Mas em dado momento, a canoa vai a pique. Aí o canoeiro pergunta ao intelectual: sabe nadar? E o cara responde: não. Então, o canoeiro diz mais ou menos assim: lamento, mas você vai morrer.
Talvez o erudito só tenha escolhido o caminho das letras e se esqueceu de coisas simples, mas que podem salvar a vida em alguns momentos de aperto - saber nadar.
Nem sei como fui lembrar dessa fábula, afinal faz só 39 anos que a li, quando estava na segunda série do antigo primário. Vão-me chamar de dino...Mas lembrei bem que o título era: ou isto ou aquilo!
Enfim, ou se tem uma coisa e não se tem outra; ou quem sabe, não se tem nem uma nem outra coisa - o que é muito pior. Escolher é preciso. Escolher bem, melhor ainda. Mas aposto que ainda ficará faltando alguma coisa. Não se pode ter tudo mesmo.