Esse é um adágio conhecido. Às vezes serviu, e ainda serve, para espoliar a massa trabalhadora. Mas nesse momento não quero discuti-lo por esse aspecto. Quero apenas trazê-lo à reflexão depois de uma cena que vi mês passado, em Goiânia, onde estive por alguns dias.
Estava passando pela rua quando ouvi alguém clamar: uma ajuda, por favor! Olhei de relance pra trás e avistei um homem novo, aparentemente saudável, e meu senso de questionamento veio à tona: o que esse cara sadio, saudável, está fazendo pedindo esmola?
Dei meia volta pra observar melhor a cena. Percebi, estupefato, que aquele homem era realmente deficiente físico, tinha uma espécie de anomalia genética, que não cabe detalhar, pois era realmente uma situação triste, por assim dizer.
Constatei que aquele cidadão era necessitado, precisava de ajuda pra sobreviver. Infelizmente, suas mãos o impediam de trabalhar. Sua capacidade laborativa estava comprometida, limitada, na verdade.
Nem sei se posso considerá-lo deficiente, pois depois que meu amigo Ricardo Fontenele, meio que filosoficamente, levantou a questão sobre o que é ser deficiente, já não sei mais se é possível definir alguém como deficiente.
Ora, deficientes somos todos nós; uns mais, outros menos. E olhe lá se aquele homem, comparado a outros considerados sadios, não é menos deficiente do que estes e de outros loucos à solta pelo mundo.
Enfim, aquele homem está impedido de trabalhar. (acho que ele ainda deve estar lá) Fiquei a pensar em quantos vagabundos, malandros, estão por aí e se recusam a trabalhar. A preguiça os mata e os empobrece materialmente, moralmente e espiritualmente.
Não falo só dos malandros e ociosos que andam pelas ruas assaltando, roubando e matando. Mas também daqueles que, por exemplo, têm um bom emprego público, um bom salário e se recusam a trabalhar.
Roubam o povo, que os paga. E nisso, já ouvi até gente dizendo: eu passei no concurso público foi pra isso mesmo, pra não fazer nada. Que pobreza de espírito, de caráter!
De modo contrário, lembro-me de um episódio ocorrido há muitos anos. Um homem bateu à minha porta e perguntou:
- O senhor não tem um quintal pra eu capinar, limpar, um trabalho pra eu fazer? Estou precisando, estou desempregado. Não estou pedindo dinheiro, estou pedindo um trabalho.
Que lição de dignidade aquele homem deu! Nunca esqueci esse fato, pois é digno de ser exaltado.
Assim há muitos nesse mundo afora. Só querem um trabalho pra se sentirem dignos. Enquanto isso, outros que têm bons empregos e salários, recusam-se a laborar e cumprir sua função social dignamente.
Imagino que, provavelmente, o pedinte que eu vi, deve sentir sua alma e seu espírito chorarem e sentir a dor de querer ter um trabalho pra ganhar o pão de cada dia, mas não pode fazê-lo. Vive à mercê da compaixão de outras pessoas.
Talvez ele pudesse exercer sua superação adaptando-se a algum tipo de trabalho, mas nem sempre isso é possível. Conheci uma mulher, em Manaus, ela não tinha os membros, era praticamente cabeça e tronco, mas sobrevivia numa praça desenhando e pintando com a boca – um ato extremo de superação.
Outro dia, passei pelo aeroporto de Fortaleza, tinha um camarada deficiente dos braços, mas sobrevive tocando teclado com os pés. São situações extremamente difíceis de superação.
Louvados sejam a saúde e o trabalho! Exaltem-se os trabalhadores desse país, que honram e dignificam seu trabalho, sua função social, apesar das adversidades.
Abaixo os malandros, os preguiçosos, os improdutivos, as sanguessugas da nação brasileira.