Começo com o texto bíblico de Isaías: a quem enviarei, e quem há de ir por nós? Fui convidado para participar da realização de uma Ação Social. Aceitei. O evento foi realizado do município de Caeté, no Maranhão.
Teve corte de cabelo, vacinas em animais domésticos (os dirigentes da ação foram o proprietário de uma loja de pet e sua esposa, veterinária), distribuição de roupas, brinquedos; instalação de brinquedos de parque para as crianças, projeção de filmes, entre outras ações; e até distribuição de preservativos para controle de natalidade da comunidade – lá tem muitas crianças e parece que a diversão é fazer filhos. Nada como instruir as pessoas a controlar e fazer planejamento familiar! Vale a tentativa.
Participar dessas ações, de vez em quando, faz-nos sentir úteis e refletir sobre uma realidade que às vezes não conhecemos, ou não lidamos cotidianamente de forma direta. Imagine quão duro dever ser o trabalho de missionários e outros propagadores do verdadeiro Evangelho que se dispõem a trabalhar em lugares assim!
Contemplei a alegria da criançada nos brinquedos instalados. No pula-pula, por exemplo, no qual ajudei na organização, uma garotinha de aproximadamente três, quatro anos disse: “Tio, quero brincar”; outra disse: “estou cansada, tio”; outra perguntou: “tem boneca, tio?”. E a curuminzada esperta ajudou carregando as coisas: caixas de roupas, calçados, brinquedos, etc. Confesso: contive-me na emoção, eu sou assim. Embora com a velhice chegando, sinta-me mais sensível a situações como essa.
Fiquei alguns minutos refletindo sobre a vida daquelas crianças, daquelas pessoas que moram ali. Longe de tudo, onde só se chega de barco – duas horas de viagem e mais três de estrada. A propósito, ainda tive que enfrentar meu medo de viagens de barco. Apesar de amazônico, não me apeteço a essas aventuras. Mas tudo correu bem, foi tranquilo.
Mas voltando à reflexão. Pensei como aquelas crianças sobrevivem naquele lugar, que futuro elas terão, que dificuldades enfrentam. Vi adolescentes perambulando. Jovens têm muita energia, vitalidade e hormônio gritando. Eles precisam de políticas públicas que desenvolvam educação, cultura, lazer, esportes, trabalho.
Fiquei a meditar sobre o futuro daqueles jovens. Pelas limitações e falta de oportunidades o ciclo se manterá: cedo se envolverão em algum relacionamento precoce e novas crianças virão ao mundo sem qualquer estrutura familiar ou material.
Pior, que alguns adultos, até mesmo mulheres, não gostaram muito da ideia de usarem preservativo pra conter a filharada (no mínimo, 5 filhos por família). Talvez sejam reprimidas pelos maridos, vá saber!
Quanta ignorância, falta de instrução! Incomodou-me, mas não sou salvador do mundo, ninguém é. Apenas tentamos fazer alguma coisa por nosso semelhante, isso é bíblico, humano, por assim dizer. Embora, às vezes, os animais sejam mais humanos do que os próprios homens.
Também me entristeceu saber que ainda teve gente reclamando de alguma coisa. Como eu digo, o ser humano é assim, nunca está satisfeito. É mais fácil reclamar do que agradecer.
As pessoas que realizaram a ação social tiraram o seu tempo, gastaram suas energias para ajudar aquele povo. Poderiam estar e ficar em casa descansando, curtindo, afinal era domingo, mas se dispuseram a fazer o bem ao próximo. Foi um gesto de amor, compaixão, uma resposta à inquirição bíblica de Isaías.
Infelizmente, como eu já escrevi em outro texto, haverá sempre alguém pra reclamar. Não importa. Fazer o bem aos que fazem o bem é muito fácil, difícil é fazer o bem aos que não praticam o bem, ou, aos que nem exercitam gratidão.
Enfim, experiências como essa nos ajudam a crescer, a refletir sobre a realidade dura, e às vezes cruel, por qual passam nossos semelhantes. E ainda nos achamos no direito de reclamar de pequenas coisas. É uma lição nas páginas de nossas vidas!