Vejo nos dias atuais muitas pessoas transferindo a responsabilidade de seus atos a outras pessoas, instituições ou coisas que acontecem. Até mesmo muitos pais corroboram essas atitudes dos filhos quando estes fracassam ou se frustram com alguma coisa.
Por que será que isso acontece? Seria a influência da mídia, da moda, da inversão de valores – muito clara na sociedade moderna? Ou da falsa democracia na qual todos podem fazer o que bem entendem e que se dane o resto, ainda que este não tenha nada a ver com a decisão ou escolha de cada um? Cada fator tem sua contribuição nesse processo.
A mídia explora o consumismo, a onda do momento, a distorção de valores éticos, sociais, morais, afinal, segunda essa, tudo é permitido e ninguém pode ter seus desejos não satisfeitos, não realizados.
Todos têm o direito à felicidade e pronto. Não importam os outros, estes têm que se ajustar aos interesses e caprichos individuais de cada um. Onde se vê isso? Nas “malhação” da vida, “big brother”, e outros programas do gênero exibidos na televisão brasileira.
A onda é: os pais não têm que opinar sobre a vida dos filhos, sobre suas escolhas, decisões, porque os filhos são seres humanos pensantes também e têm capacidade para fazê-lo sem ajuda dos pais, mestres, ou outras pessoas mais velhas, por exemplo.
Não deve haver limites da liberdade, pois pode ser frustrante e causar traumas emocionais eternos nos pobres seres humanos indefesos e frágeis. Na minha opinião, quanto exagero, quanta fraqueza de espírito e quanta falta de atitude!
Vi nos últimos anos, talvez até dias, alguns casos de pessoas famosas que se envolveram com drogas e morreram por overdose. Mesmo assim, seus pais, parentes, familiares, amigos e outros atribuíram a causa da morte dessas pessoas à demora no socorro médico, falta de política pública antidrogas, entre outras justificativas, mas não à vida desastrada que tais indivíduos viviam.
Não assumiram ou atribuíram claramente à desgraça o estilo de vida, a escolha e decisão que aqueles indivíduos fizeram. Há algo mais claro do que isso de transferência de responsabilidade? De não assumi-la e arcar com as consequências de seus atos?
Considero um dos grandes erros que cometemos na condição de pais é proporcionar tudo aos filhos, sem medir esforços, porque não queremos que eles passem ou sofram situações que ocorreram conosco.
Resultado, parece que as novas gerações já nascem folgadas, preguiçosas, molengas; reclamam de tudo, querem tudo; têm todas as facilidades da vida moderna para aproveitarem os estudos, por exemplo, mas desperdiçam oportunidades valiosas que a vida lhes oferece, ou melhor, facilidades que os pais lhes proporcionam.
Impressiona-me como alguns, ou até muitos, filhos de hoje não sabem se virar na vida, não têm iniciativa, atitudes; esperam que os pais façam tudo pra eles. Nem pequenas tarefas domésticas querem ou se dispõem a fazer.
Investir meia hora por dia na leitura de um bom livro é tarefa difícil, ou até impossível, para a maioria. Mas pra passar uma noitada enchendo o caneco, alguns até cheirando pó, fumando, colecionando parceiros sexuais, isso a maioria não mede esforços em fazer. E muitas vezes até contrariando e ignorando os conselhos dos pais.
Mas na hora em que se dão mal, assumir a responsabilidade pelos atos é inaceitável; a culpa nunca é do filho pródigo, é dos outros, da sociedade, do Estado, dos pais, dos professores – que não educam.
É muito fácil culpar as pessoas, instituições ou circunstâncias por nossos fracassos e frustrações, difícil é assumir com responsabilidade os riscos e as consequências de nossos atos e decisões.