Sou amazônico, nascido em Manaus, terra dos rios, dos peixes, da floresta – mas sem floresta (por incrível que pareça, a cidade não é arborizada).
Mas agora estou vivendo em São Luís do Maranhão, no Sarneyquistão, como outro dia publicou-se na revista Veja. Não quero falar sobre isso agora.
Aqui tem mar, tem praia. Hoje resolvi ir à orla contemplá-los. Eu vivo bem com ou sem mar e praia, não são meus hábitos peculiares, mas gosto de apreciar a natureza, sua beleza, que às vezes pode até falar ao nosso espírito, em momentos de ensismemamento.
Fiquei a observar a agitação do mar, suas ondas, o movimento das águas batendo nas pedras, navios distantes da margem. Pensei na aventura de navegar além dos limites dos navios, mas isso não combina comigo.
Apesar de amazônico, não tenho familiaridade com águas, rios, mares. Respeito as águas e não gosto de estar sobre elas, tenho certo trauma, pois já escapei de morrer afogado. Desde então, tenho fobia a viagens por águas ou aventuras nelas. Cada louco com sua mania, ou seus temores.
Eu só quis fazer coisas que às vezes não fazemos porque deixamos o dia a dia nos atropelar. Deixamos de conhecer e apreciar as belezas do lugar onde vivemos. Moramos, vivemos, mas nunca paramos ou nos dispomos a conhecer nosso habitat.
Às vezes partimos pra outro lugar e nem conhecemos ou apreciamos a cidade por onde passamos. Alguns até passam o tempo todo reclamando, lamentando-se por estarem onde não queriam ou gostariam de estar.
Ora, isso acontece, mas ao olharmos um copo de água pelo meio é preferível pensar “ainda tem metade" a pensar "só tem metade”. Tive essa sensação quando parti da minha terra pra outras cidades. Aliás, minha terra é o planeta Terra; minha terra é onde eu estiver bem.
São coisas que nos humanizam. Precisamos fazê-las mais vezes. Já passamos a semana na correria: levar filhos pra escola, ir pro trabalho, pagar contas, honrar compromissos, e por aí vai.
Nem sequer paramos, às vezes, pra dar atenção aos nossos filhos, e quando menos esperamos lá estão eles – grandes, crescidos, cascudos – como dizia meu avô.
É por isso que hoje resolvi contemplar o mar. Sozinho. Apenas observar a natureza, as pessoas circularem. Alguns a caminhar, outros a correr, outros a namorar. Cada um ao seu modo, apreciando a vida. Não quis agitação, burburinho; só quietude, paz de espírito.
São coisas que devemos fazer de vez em quando, ou sempre talvez. Vale à pena. E como eu disse: eu só queria ver o mar!
Juscelino Nery
Enviado por Juscelino Nery em 03/09/2011
Alterado em 03/09/2011