Prisma das letras

Bem-aventurado o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento. Provérbios 3:13

Textos

Vi uma triste matéria jornalística sobre a fome na África. E alguns dias antes, eu havia visto outra matéria sobre os possíveis efeitos psicológicos em investidores nas bolsas de valores por eventuais perdas decorrentes da crise. Um contraste sem tamanho.

Não há nem comparação a fazer. Apenas suscitar a reflexão sobre os grandes problemas que afligem a humanidade nos últimos tempos.

Enquanto milhões de pessoas, entre estas, crianças inocentes, morrem de fome na África, por conta de guerras civis sem sentido, outros estão e andam preocupados com seus investimentos em bolsa de valores.

Aliás, investimentos sem produtividade, pois renda advinda de investimentos financeiros não são resultados de atividades produtivas. Os economistas que me corrijam se eu estiver errado. Na verdade, nem sei se tais valores que circulam no mercado financeiro possuem lastro suficiente para tantos números. Em minha insipiência, eu duvido.

Não estou dizendo que é certo ou errado fazer investimentos, se é moral ou imoral, não é isso. Trata-se de uma questão maior, abrangente, e não pode ser definida por ínfimos investidores em poupança, ou fundos de ações, por exemplo.  A discussão gira em torno dos reflexos do grande mercado financeiro sobre a vida das pessoas, se comparada a outros temas que envolvem os problemas da humanidade.

Sem medo de errar digo: se na África, precisamente na região da fome, existissem riquezas para exploração, como o petróleo, por exemplo, com certeza os países ricos já teriam intervindo, contendo ou amenizando as ações dos rebeldes que impedem a chegada dos alimentos à população e mantêm a guerra civil naquela região há 20 anos.

Não foi isso que fizeram no Iraque e no Afeganistão? Será que era apenas vingança contra Bin Laden e sua turma? Duvido. Aliás, ficou comprovado depois que não havia nenhum sentido à invasão americana e de seus aliados no Iraque, promovida pelo  "inteligentíssimo e amável" Bush.

Pra manter seu poderio econômico na região do petróleo, intervieram sem demora. Foi assim no Kuwait também, lembram? Intervieram para conter o Saddam, mas não intervêm para conter a fome e a desgraça na África.

Mataram o Saddam e o Bin Laden, fizeram uma guerra no Vietnã que ceifou milhares de vidas e deixou soldados malucos, em nome da ideologia do capitalismo. Não seria mais fácil intervir nos conflitos cruéis e desumanos causados pelas guerras civis na África? É uma inquirição a se fazer e para se pensar.

Mas a preocupação maior no mundo atual não é com vidas humanas, mas com capital financeiro, com bens materiais; não é com perda de seres humanos, em particular as crianças, mas com perda de dinheiro, de poder, de bens, de riquezas.

Nossas crianças estão morrendo aos milhares e estamos preocupados se vamos perder dinheiro na bolsa. A pobreza, a miséria, a fome, exterminam milhões de pessoas no mundo, mas estamos preocupados com efeitos psicológicos em investidores - que poderão enlouquecer se se sentirem perdidos sem moedas nas mãos, que nem o Tio Patinhas.

Os famintos, se sobreviverem, estes sim terão muitos danos psicológicos a serem tratados. Pois na verdade terão escapado da morte. Agora, se preocupar com perdas materiais, que podem ser recuperadas com trabalho, isso não merece tanta preocupação com danos psicológicos.

Ou estou ficando doido, em pensar assim? Socorram-me, se eu estiver enlouquecendo!








Juscelino Nery
Enviado por Juscelino Nery em 15/08/2011
Alterado em 25/08/2011


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