Quem gosta de escrever parece que nunca está satisfeito com seu texto. Há uma luta constante pra definir e concluir um escrito.
Eu, particularmente, tenho buscado obras que me ajudem nessa jornada. Já li: Escrever melhor, de Dad Squarisi e Arlete Salvador; Redigir – Imaginação e criatividade, de Alceu Leite Ribeiro; Para ser escritor, de Charles Kiefer; Escrevendo com a alma, de Natalie Goldberg;Todo mundo devia escrever, de Georges Picard; e estou lendo – muito lentamente, Para ler como um escritor, de Francine Prose. E por último, comecei a ler A arte de escrever, de Schopenhauer.
Sem dúvida, escrever é um trabalho árduo. Exige disciplina, perseverança, prática. Natali Goldberg diz: “Se você pretende ser um bom escritor, deve fazer basicamente três coisas: ler bastante, ouvir com atenção e profundidade e escrever bastante”.
Charles Keifer escreveu que “Um escritor somente é escritor quando menos é escritor, no instante em que tenta ser escritor e escreve. Na absoluta solidão de seu ofício, enquanto a mente elabora as frases e a mão corre para acompanhar-lhe o raciocínio, é escritor. Nesse espaço, entre o pensamento e a expressão, vibra no ar um ser sutil, fátuo e que, terminada a frase, concluído o texto, se evapora. Nesse átimo, o escritor é escritor. Aí e somente aí. Depois, já é o primeiro leitor, o primeiro crítico de si mesmo e não mais escritor”.
Vê-se aí que, no momento seguinte à conclusão do texto, já o lemos com olhar crítico. Passamos de escritor a leitor. Aí começam os embates consigo mesmo e com o texto.
Dad Squarisi e Arlete Salvador falam do facão e pé-de-cabra para eliminar os defeitos identificados no texto. Dizem as autoras:”O problema mais comum nos textos é o tamanho. Escreve-se demais. Escreve-se demais, escreve-se muito, como se qualidade pudesse ser medida por metro ou peso. Extensão não é documento nem excelência”.
E assim, existe uma peleja constante entre o escritor e o texto. Essa luta é um dever de respeito a si mesmo, ao próprio texto a aos leitores. O que pode estar claro pra quem escreve pode não estar pra quem vai ler.
Procuram-se os vocábulos adequados para transmitir mais próximo da realidade e do sentido que se quer passar ao leitor. Analisa-se a construção dos períodos com a concatenação das ideias. Verificam-se a pontuação e ortografia. E por aí vai.
Há uma briga para exprimir o pensamento, a ideia, o fato. E a cada leitura novas alterações se quer fazer. Mudar uma frase, ajustar os períodos, corrigir pontuação. Tudo por um texto inteligível, claro, conciso.
Não se trata de perfeccionismo, mas de zelo pela arte da expressão e respeito pelo leitor, pois é a busca pela conquista da confiança, da fidelidade, algo não tão simples de ser obtido numa arte que exige muita dedicação, trabalho, para se alcançar o objetivo de transmitir os pensamentos e ideias.
Agora mesmo estou brigando pra definir e concluir esse texto. Haja leitura e mais leitura para se decretar o produto final. E depois das severas críticas e advertências de Schopenhauer aos escritores de sua época, mas que servem de advertência para quem gosta de escrever, aí me vi em apuros de vez.
Diz ele:
“É preciso ser econômico com o tempo, a dedicação e a paciência do leitor, de modo a receber dele o crédito de considerar o que foi escrito digno de uma leitura atenta e capaz de recompensar o esforço empregado nela”.
E acrescenta:
“Usar muitas palavras para comunicar poucos pensamentos é sempre o sinal inconfundível da mediocridade; em contrapartida, o sinal de uma cabeça eminente é resumir muitos pensamentos em poucas palavras...Nunca se deve sacrificar à concisão a clareza, muito menos a gramática”.
Aprender a conciliar tudo isso de forma eficaz para satisfazer o leitor, confesso que não é uma tarefa fácil, mas jamais será obstáculo pra quem ama a arte de escrever.
Fico com as sábias palavras de Salomão:“quem ama a disciplina ama o conhecimento, mas o que aborrece a repreensão é estúpido; o caminho do insensato aos seus próprios olhos parece reto, mas o sábio dá ouvidos aos conselhos”. Eu prefiro aprender com conselhos e críticas a permanecer tolo e inflexível.
Juscelino Nery
Enviado por Juscelino Nery em 28/04/2011
Alterado em 28/04/2011