E disse Deus: façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Mas, afinal, há alguma semelhança mesmo entre Deus o homem? Pelo que tenho visto em toda a história da humanidade, há mais semelhança entre o diabo e homem do que entre Deus e o homem.
Primeiro, Deus não criou o homem para dominar outros homens, mas a história mostra diferente. É só lembrar de Stálin, Mao Tse Tung, Fidel Castro, Idi Amim Dada, Kadaffi, Sadam Hussein, entre outros ditadores de regimes totalitários. Aliás, alguns até hoje resistem em se manter no poder. A crise no Oriente Médio retrata bem isso.
Deus também é amor. Mas o que se vê nas criaturas humanas, em pleno século XXI, no trato com seus semelhantes não são gestos de amor, mas de crueldade, de desamor, de egoísmo, e por aí vai.
Deus também é justiça. Nesse ponto alguns nem admitem tal atributo de Deus, pois se este o fosse, não permitiria as mazelas e sofrimentos de seres inocentes, como algumas crianças, por exemplo. Na sociedade atual a injustiça na sua face mais cruel é vista continuamente. Até os que deveriam defender a aplicação da justiça, preferem ignorá-la, em detrimento dos pobres e miseráveis.
Bilhões de dólares são gastos em armamento enquanto milhões de pessoas morrem de fome no planeta. Guerras tribais e religiosas consomem a África e outros cantos da Terra. O nazismo já tentou fazer limpeza étnica, exterminando seis milhões de judeus. A guerra do Kosovo, não tão distante assim, também visava a uma limpeza étnica.
Os regimes fundamentalistas islâmicos massacram seus próprios concidadãos e de quebra acusam e responsabilizam Israel por todas os conflitos existentes na região. Há também outros fundamentalistas de várias religiões, que mantém seus seguidores no cabresto, tornando-os escravos da religiosidade, mas longe de Deus.
A corrupção consome a riqueza das nações, em particular do Brasil, e milhões monetários são desviados para o bolso de ratazanas que enriquecem à custa do dinheiro e da miséria do povo, curiosamente, seu semelhante.
Crianças são jogadas no lixo e abandonadas ao relento - um crime contra a vida. Por esses dias, vi algumas matérias jornalísticas sobre vários casos de abandono de crianças. Num deles, um menino morreu de tanto ser maltratado, espancado, e supostamente, morreu de fome e de sede, sob a custódia da própria mãe.
Jovens são queimadas e mortas, em nome de suposta paixão de seu algoz. Pais de família e outros inocentes morrem vítimas de violência urbana, simplesmente porque tentavam apaziguar um conflito infantil.
Milhares morrem vítimas de acidentes de trânsito nas estradas, causados por verdadeiros selvagens ao volante, que agem com imprudência, não respeitam nem a própria vida quanto mais a dos outros. E no fim ainda culpam as estradas. Claro que falta infraestrutura, mas esse não é o fator mais determinante para tantas vidas ceifadas no trânsito brasileiro. A culpa é dos motoristas selvagens, dos encachaçados, dos irresponsáveis, dos quadrúpedes - com perdão da palavra, que estão à solta por aí.
Há também os mal educados e anticidadãos, que estacionam nas calçadas impedindo o tráfego de pedestres que são obrigados a passarem pelo meio da rua; e há os que estacionam nas vagas destinadas a deficientes e idosos na maior cara de pau. E em situações de desastres naturais, já vi seres tentando se aproveitar do momento de desgraça para desviarem donativos e recursos destinados ao atendimento do povo.
Enfim, vejo a crueldade do homem para com o homem e me pergunto: que semelhança é essa entre Deus e o homem? Se houver alguma, é mera coincidência. O pecado do homem, traduzido pela maldade existente no mundo, torna-o mais semelhante ao capeta do que ao seu próprio Criador.
Juscelino Nery
Enviado por Juscelino Nery em 26/04/2011
Alterado em 07/06/2013