Prisma das letras

Bem-aventurado o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento. Provérbios 3:13

Textos

Já imaginou se não existissem o pedreiro, o carpinteiro, o gari, o borracheiro, como viveríamos?

Vivemos na sociedade competitiva. Preparamos nossos filhos pra galgarem os melhores empregos, posições. A tônica é desejar estudar medicina, direito, administração, engenharia.

Desprezam-se ou rebaixam-se profissões ou trabalho, por exemplo: filósofo, cientista social, pedagogo, carpinteiro, borracheiro, doméstica, barbeiro, encanador, eletricista, gari.

Ser professor, nem pensar. Ninguém quer ser e nem deseja isso para os filhos, afinal é um dos profissionais mais humilhados, desrespeitados e desvalorizados pela nossa sociedade e por nossos governos.

Esquece-se que sem os professores e profissionais de educação não se chegaria aos doutores. Curioso que nem pensei em lecionar, mas amo fazê-lo, e minha filha, não por desejo meu – sinceramente, formou-se em Letras e gosta de ensinar também.

Mas indago: se todos fossem doutores, quem faria os trabalhos que às vezes precisamos? Para construir uma casa, um prédio, não bastam apenas os engenheiros, precisa-se de mestres de obras, pedreiros, carpinteiros, encanadores, eletricistas.

Quem limparia as ruas, às vezes sujas por pessoas mal  educadas, principalmente quando ocorrem grandes eventos como jogos de futebol, shows, comícios, carnaval, e outros? Divertir-se todo mundo quer, duvido que pra limpar haveria voluntários para fazê-lo. Aí surge a necessidade do gari.

E quando o pneu do carro fura, murcha, a quem se recorre? A uma borracharia. Nem todos têm habilidade, disposição e paciência para trocar o pneu do próprio carro.

Eu não sei cortar cabelo, já pensou se não existissem os barbeiros? Meu cabelo viraria uma juba de leão e a barba se arrastaria no chão.

E na sociedade trabalhista moderna, às vezes precisamos de uma secretária do lar para cuidar das crianças. E aí? Não podemos mais ter filhos? Ou poríamos mais essa travanca nas costas dos nossos pais? Eu não acho justo. E cuidar de menino não é moleza, filhos dos outros, então!

Estourou um cano em casa, tem que chamar o encanador. Deu pau na instalação elétrica, chama-se o eletricista. O carro está sujo, leva-se ao lava-jato. Tem algumas coisas dessas que até sabemos fazê-las, mas o tempo não nos permite.

E o padeiro? Todo mundo saber fazer pão? Eu não sei. Mas gosto de comer pão e muita gente também gosta. E aí, precisamos da padaria, onde claro, deve ter um padeiro pra fazer o pão.

Todos sabem cozinhar? Eu não sei. Precisamos de alguém que cozinhe. Esqueçamos a mulher maravilhosa que temos que gosta de cozinhar - um privilégio de quem a tem, mas nem sempre ela está disponível. Aí temos que ir ao restaurante, onde estãos os cozinheiros.

E o açougueiro? Alguém sabe cortar carne, conhece os tipos de carne? E o peão da fazenda que cuida do gado? A carne chega no açougue, mas teve um percurso pra chegar a nossa mesa.

E o agricultor? As verduras e frutas que chegam a nossa mesa teve alguém que plantou, colheu, regou. Já pensou se não existissem os agricultores? Ficaríamos sem alguns alimentos. E os feirantes? Eles tiveram o trabalho de carregar seu produto para pôr a venda na feira e pudemos comprar.

Ainda tem o entregador de pizza. Não queremos ou não podemos sair de casa, telefonamos e pedimos uma pizza. Se não houvesse os entregadores teríamos que optar por outro tipo de lanche.

Enfim, incentivo, desejo e luto pra que todos estudem, cresçam em conhecimento, informem-se, mas nem todos podem ou preferem isso.

Há pessoas que não gostam de estudar, mas gostam de trabalhar. Isso é louvável, digno, honroso. O importante é ter e saber fazer algo que lhe garanta a subsistência e o pão à mesa.

O que é inadmissível é a malandragem, a vagabundagem, a preguiça. Por isso que é discutível a ideia de que o sujeito virou ou é bandido porque não teve oportunidades na vida ou porque falta emprego, trabalho.

Bandidagem não é compatível com dignidade. Pode não arranjar o empregão que desejava, mas trabalho pra sobreviver achará se estiver buscando sinceramente. Até porque tem indivíduo na bandidagem que teve todas as oportunidades na vida, mas preferiu o caminho da malandragem.

Vejo deficientes físicos que trabalham, pessoas humildes – que moram na periferia de grandes cidades, mas honrosamente trabalham vendendo bugigangas nos semáforos, nos camelódromos, sob sol ou chuva. Eu conheço vários, você conhece?

Assim, há lugar para todos, é só querer, buscar, encontrar. Nem todos serão doutores, mas poderão viver dignamente. Viva o trabalho!
 

Juscelino Nery
Enviado por Juscelino Nery em 28/03/2011


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