Prisma das letras

Bem-aventurado o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento. Provérbios 3:13

Textos

Feliz é quem, depois de 40 aniversários, não sente nem ao menos uma dor de cabeça, pois normalmente não é o que acontece.

Quando me aproximei dos 40, confesso, fiquei apreensivo sobre como seria a vida e o que viria após essa idade. O que posso dizer é: as mazelas chegaram!

Primeiro, a hipertensão - resultado da minha carreira de bancário, felizmente esta ficou pra trás, mas aquela até hoje tenho.

Depois, chegou o glaucoma, e ultimamente - de um ano pra cá, a maldita diabete. Mas espere aí! Tem mais! Sou míope desde os 12 anos, só 7,5 graus. Lá pelos 37, 38, o ácido úrico mostrou suas garras; o colesterol e o triglicerídeo formaram a dupla sertaneja da onda por vários anos, até hoje me perseguem.

Engraçado que nunca tomei uma dose de cachaça na vida, nem fumei nenhum charuto cubano ou um cigarro daquele matinho - candidato defendido por alguns a futura legalidade; e detesto cerveja; aprecio, às vezes, e moderadamente, o vinho.

Tanta abstinência não me livrou das mazelas! Mas não me arrependo de ter ignorado os vícios, só acho cômico, ter-me abstido de certas estripulias, e ainda assim, ser mazelento!

Parece um contrassenso da vida, afinal, quantos não tiveram  vida desregrada, estragada e não sentem sequer uma dor de cabeça. Fazer o quê? Lembrar o outro lado da moeda, ou seja, muitos não deram valor à vida e hoje estão acabados, sofrendo terríveis dores e consequências de seus atos desatinados, e outros já partiram bem cedo, nem preciso citar nomes, você deve saber de alguns. É um dos meus consolos.

Tenho mais consolos. Avalie você também, se achar conveniente. Ainda essa semana, vi um cidadão, pedindo esmola num semáforo na cidade onde vivo. Detalhe: ele não tinha os dois braços; noutro semáforo, uma mulher jovem, só tinha uma perna e seu corpo, marcado por outras deficiências físicas que a impedem de ter uma vida normal.

Tenho trabalho, salário suficiente pra comprar meus remédios; posso ter uma vida razoavelmente normal. Devo sorrir ou chorar? Murmurar ou agradecer?

Ora, devo viver e rir das próprias mazelas! O outro lado da moeda poderia ser muito pior. Mas não escondo que isso às vezes me incomoda. É a vida.  

Juscelino Nery
Enviado por Juscelino Nery em 28/03/2011


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