Prisma das letras

Bem-aventurado o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento. Provérbios 3:13

Textos

Há tempos não escrevo. Abateu-se sobre mim uma espécie de branco da escrita, ou bloqueio criativo,  ou sei lá o quê. Hoje, deu um estalo de escrever sobre a dor das perdas.
 
Sejam elas a de um pai, uma mãe, um amigo, um amor, um filho - talvez essa seja a maior de todas; seja porque quem você ama vai embora pra outro lugar e você dificilmente irá vê-lo de novo; seja porque partiu dessa vida para o além; seja porque uma relação foi rompida e um casamento e grande amor foi perdido, enfim, resolvi soltar a escrita.

Fico imaginando se existisse um almômetro (medidor de sentimentos da alma), neologismo que criei agora ou quem sabe já exista e eu não conheça, como seria representada a dor na alma pela perda de alguém que se ama.

Creio que a medida seria abaixo de zero (0), negativa. E quanto maior a intensidade da dor, mais negativa seria: -1, -2, -3, etc.

Algumas pessoas jamais são saradas das feridas na alma, e viverão sempre sentindo a dor da perda.

Isso pode acontecer, por exemplo, quando se perde um filho, principalmente se é o único. (filho, no sentido genérico, claro - filho ou filha). Nem quero imaginar o que eu sentiria ou como seria a vida pra mim, se perdesse minha única filha.

Há pessoas que sofrem em silêncio, expressam a sua dor consigo mesmo, pois não há quem as compreenda, ou possa ajudá-las. 

Também há aquelas que a dor é tão intensa que sonhos são abortados, perdidos, abandonados, pois não se encontra mais forças para prosseguir. A dor atrapalha a concentração para planejar os sonhos, horizontes.

Às vezes, quando se pensa que a alma está sarada, lembranças fantasmagóricas penetram no mais íntimo lugar da alma, e como uma ponta de alfinete num balão, estouram e reabrem as feridas, causando dor e sofrimento.

Talvez a ideia de escrever sobre a dor das perdas vieram por eu presenciar, recentemente, pessoas amigas, próximas, que experimentaram ou estão experimentando essa dor na alma. Eu também já experimentei, e sei o quanto dói.

Algumas delas ficam meses, até anos, sentindo a dor da perda na alma. E como já disse, alguns nunca são saradas completamente.

Lembrei de um caso que, por ironia do destino, caiu em minhas mãos - um processo administrativo de isenção do imposto de renda por doença grave. 

Quando li os autos, no mesmo instante percebi que a vida de um homem foi estraçalhada quando perdeu sua amada esposa ao dar à luz a sua única filha.

Que dilema! A esposa morreu ao dar à luz, e restou como consolo pela perda, o nascimento da única filha daquele homem e de sua querida esposa, que partiu para o além.

Daquele instante em diante, aquele homem nunca mais foi mesmo. Sua vida definhou. 

E outra vez, a ironia do destino se apresentou: a única filha daquele homem e de sua esposa falecida, graduou-se em Direito e havia conquistado uma grande vitória, mesmo sem ter a sua mãe ao seu lado. Aquela jovem se superou. Sem mãe, e o pai com a alma em frangalhos, ela venceu a própria vida.

Aquele homem viveu o resto da sua vida dedicando-se àquela filha, mas tenho certeza que sua alma jamais foi curada, e a dor na alma nunca passou. O único sentido para a vida dele foi dedicar a própria vida pela filha, mesmo que depois tenha sofrido as consequências no corpo, da dor infligida no interior do seu ser.

A filha era o símbolo, o significado de um grande amor perdido por uma fatalidade da vida. Amores assim são raridades. Prevalecem, hoje em dia, os amores banais, condicionados ao próprio bem-estar. Assim é fácil amar.

Mas enfim, ao refletir sobre a dor na alma humana, surgiu a ideia desse texto. Escrevi-o. Quem sabe alguém esteja sofrendo por aí e precise compartilhar com este texto a sua própria dor. Quem saberá?!














 


 
Juscelino Nery
Enviado por Juscelino Nery em 13/03/2014


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